A ordem de prisão enviada pela Espanha ao Brasil
referente ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, usou como argumento
central para basear o pedido o fato de o cartola ter sido supostamente o
responsável por formar uma "organização criminosa" que desviou
milhões de euros da seleção brasileira e da CBF. Nesta segunda-feira,
procuradores brasileiros solicitarão detalhes sobre o processo que corre em
Madri e irão propor que o caso seja integralmente transferido ao Brasil para
que Teixeira seja julgado no País.
Na última sexta-feira, o Estado revelou com exclusividade
o pedido de prisão feito pela Espanha ao Brasil. De acordo com fontes em Madri,
a justificativa legal de maior peso na ordem é a acusação explícita de que
Ricardo Teixeira teria sido a peça chave na formação da organização criminosa,
além de seu principal beneficiário. Isso, na avaliação de pessoas envolvidas no
processo, poderá levar os procuradores brasileiros a acusar formalmente
Teixeira por lavagem de dinheiro.
Segundo a reportagem apurou, três documentos foram
enviados à Brasília, que agora examina informações preliminares que poderiam
resultado numa detenção. A decisão será tomada com base nas provas e documentos
que o Ministério Público enviará ao Brasil. O caso será conduzido por procuradores
federais no Rio de Janeiro.
No próximo dia 26, uma reunião em procuradores espanhóis
e brasileiros poderá determinar os detalhes da cooperação e, se as informações
preliminares forem confirmadas, a tendência é de que ele possa ser detido
preventivamente. Para o Brasil, o que vai pesar é a forma pela qual os
espanhóis qualificam como organização criminosa.
Entre os procuradores envolvidos no caso na Espanha,
existe uma certa pressa compartilhar todos os detalhes sobre o caso e tentar
pelo menos colher um depoimento do brasileiro. O motivo: um eventual risco de
fuga de Ricardo Teixeira do Brasil aos Estados Unidos. Se houver algum tipo de
acordo de delação premiada envolvendo o dirigente e a Justiça norte-americana,
o acordo poderia prever a sua ida ao território norte-americano, com certas
garantias de que não seria extraditado ao Brasil e muito menos para a Espanha.
De acordo com fontes, outros destinos para Ricardo
Teixeira não seriam realistas como estratégias de fuga, já que nos últimos
quatro anos a Procuradoria Geral da República tem conseguido convencer diversos
países a extraditar brasileiros que estavam foragidos na Operação Lava Jato. Na
Europa, todos os demais governos tem acordos com Madri.
O ex-cartola chegou a ter residência em Andorra. Mas esse
direito foi encerrado pelo principado depois de polêmicas envolvendo suspeitas
sobre Ricardo Teixeira.
Em um grampo realizado pela polícia espanhola, Ricardo
Teixeira foi pego falando com o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell. Na
conversa, realizada em abril, ele "consulta com Rosell sobre que lugares
do mundo poderiam resultar mais seguros na hora de evitar problemas derivados
das investigações em curso seguidas contra ele em diferentes países".
O brasileiro foi acusado na Espanha de ser o principal
articulador de um esquema de desvio de dinheiro de jogos da seleção brasileira.
Outras quatro pessoas implicadas no mesmo esquema estão em prisão em Madri, sem
direito à fiança. Um deles é Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona. Em uma
apuração inicial, procuradores estimam que ele poderia responder por
estelionato contra a CBF e apropriação indébita seguida de lavagem de dinheiro.
Isso tudo sem contar ainda com crimes contra a ordem fiscal e evasão de
divisas.
Outra medida tomada pelo Brasil foi a de demonstrar
"boa vontade" com outros pedidos que existiam da Espanha para a
investigação de outros casos envolvendo interesses de Madri no País. Assim, ao
cumprir diligências solicitadas pelos espanhóis em outros casos, o Brasil
espera mandar um sinal de que quer acelerar a ajuda no caso envolvendo a CBF.
A ordem de prisão partiu da juíza Carmen Lamela, da
Audiência Nacional em Madri. "Teixeira obteve, de forma indireta, mediante
a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a
Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE transferiu para a
Uptrend pela suposta intermediação desta última", afirmou. A decisão da
juíza foi do dia 12 de junho.
Conforme o Estado revelou ainda em 2013, acordos secretos
permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em
nome de Sandro Rosell. No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola
apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com
o próprio Ricardo Teixeira.
Os investigadores concluem, portanto, que "parte dos
fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao
próprio Teixeira". De acordo com a Audiência Nacional, os fatos apurados
levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o "destinatário do dinheiro,
e não a Confederação (CBF)".
As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de
que o delito de Ricardo Teixeira foi "a apropriação por parte do
presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados
pela seleção brasileira". Desde a prisão de Sandro Rosell, a defesa de
Ricardo Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade.
No pedido de prisão ao Brasil, a Espanha ainda deixou
claro que Teixeira "prejudicou" a CBF, inclusive influenciando
contratos de direitos de transmissão. "O reclamado se beneficiou de
comissões ilegais devido à sua posição de presidente da Confederação
(CBF)", afirmou o documento. Teixeira ainda "influenciou a concessão
de direitos audiovisuais de partidas da seleção em prejuízo à CBF."
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