Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo Metropolitano de
Uberaba – MG
É assustadora a quantidade de gente que passa e morre de
fome no mundo. Essa é uma realidade triste também no Brasil, num país que
produz grande quantidade de alimento de todos os tipos e é recorde na colheita
de grãos produzidos pelo agronegócio. Mas é uma produção que não privilegia a
vida das pessoas mais carentes e incapazes de produzir o necessário para se
sobreviverem.
No deserto em direção à Terra Prometida, a Palestina, o
povo oriundo da escravidão do Egito também experimentou a falta de alimento. A
fome provoca reação forte de quem vivencia o sofrimento e se manifesta com
atitudes de revolta. Foi assim que aconteceu com o povo da aliança de Deus, mas
acontece também com os famintos dos novos tempos, porque são inconformados com
a falta de partilha.
O fundamental é acreditar na providência de Deus, mas não
ficar apenas na expectativa de receber tudo de graça. Mesmo com um mercado de
trabalho insuficiente para todos, há iniciativas que suprem a falta de emprego.
É o momento da criatividade, a pessoa tendo infelizmente que fazer os chamados
“bicos” para não deixar a família viver sem o necessário para uma vida “digna”.
Todos os brasileiros esperam por dias melhores, mesmo tendo
que conviver com os desmandos governamentais e as atitudes irresponsáveis de
muitos de nossos políticos. Aliás, as eleições estão chegando e é hora de dar
um basta naqueles que têm o caminho político como cabide de emprego. Agem
tapeando o povo e não medem as consequências das atitudes individualistas
praticadas.
É triste ver como vivem as pessoas na total situação de
pobreza, sem proteção, sem roupa, sem dinheiro e sem alimento adquirido com seu
próprio trabalho. Isso fere a dignidade das pessoas e as colocam numa condição
de total vulnerabilidade humana. Muitas começam agir com agressividade e perdem
totalmente o estímulo para o trabalho. Acabam tendo que ser “parasitas” na
comunidade.
Numa visão cristã, Jesus e a sua Palavra são alimentos para
plenificar a dignidade das pessoas, mas alimentos com dimensão de eternidade,
que dão sentido para a fome humana. Jesus se apresenta como o pão que desceu do
céu, quando diz: “O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo
6,51). Quem partilha a Eucaristia precisa partilhar também os dons da vida
terrena.

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