*Adilson Motta de Santana
Os fenômenos anímicos, segundo a literatura do final do
século XIX até as primeiras décadas do século XX, eram bastante frequentes,
misturando-se muitas vezes aos fenômenos mediúnicos. Ernesto Bozzano, dedicado
estudioso dos fenômenos psíquicos, afirmou que apenas 40% dos casos estudados
por ele representavam a comunicação dos mortos. A proporção pode variar, mas
esses fenômenos continuam ocorrendo, pois representam o patrimônio espiritual
do ser humano encarnado.
Infelizmente, de lá para cá, fez-se uma lacuna de quase
um século em que este tema deixou de ser alvo do interesse e pesquisa do meio
espírita, tornando-nos ignorantes de uma temática importante, pois que diz
respeito às faculdades da alma.
Os fenômenos anímicos ou de emancipação da alma, como Allan
Kardec preferiu chamar, revelam o Espírito que somos. A alma se mostra tal qual
é, expressa a sua condição imortal e prova que o pensamento não é produto das
atividades cerebrais. Se podemos ouvir e ver sem o auxílio dos ouvidos e dos
olhos e com uma amplitude e clareza bem maior que o habitual, se podemos
raciocinar com capacidade superior à da condição de vigília, se é possível
expressar uma sabedoria e compreensão das coisas para além do estado de
consciência, é por que há algo em nós que transcende a matéria e que, devido ao
estado especial de sonambulismo, se encontra mais livre do jugo do organismo
biológico, facultando-lhe a maior e melhor percepção. Esse algo é a alma.
O sonambulismo magnético, um desses fenômenos de
emancipação da alma, foi o precursor da mediunidade moderna, todavia, não
desapareceu com o surgimento desta. O aparecimento da mediunidade apenas
ampliou as possibilidades do ser humano mostrando a sua capacidade não só de
entrar em contato consigo mesmo, mas também com outros Espíritos, encarnados ou
desencarnados.
Através do sonambulismo podemos investigar a alma,
conhecer as suas nuanças, percorrer as suas trilhas desvendando os mistérios
que a envolvem, dentro dos limites do progresso do Espírito e do
desenvolvimento da faculdade.
Os fenômenos de emancipação da alma demonstram o
potencial divino implantado na alma humana pelo Criador. A condição terrena é
às vezes por demais difícil, cheia de altos e baixos, de dificuldades, além de
que a matéria exerce uma pressão sobre o Espírito toldando-lhe as faculdades,
mantendo-as em suspenso, as mesmas capacidades que ele pode utilizar quando no
mundo espiritual. Por isso os Espíritos disseram a Allan Kardec que "basta
que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade.
Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo
lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se
desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo". A
matéria o constringe e afeta, é como que uma prisão da qual deseja libertar-se,
mas que só o pode fazer por ocasião da morte. Enquanto isso, os momentos que se
apresentam são utilizados pela alma para retemperar-se junto aos amigos
espirituais. Toda noite, enquanto o corpo se refaz do desgaste diário e mantém
latentes as suas funções, o Espírito se desprende parcial e temporariamente,
podendo, assim, obter algum descanso das lutas cotidianas na matéria, adquirir
novas forças para a continuação da sua jornada terrena, receber novos
incentivos e orientações, voltando ao corpo mais disposto e motivado para
seguir na experiência física.
Estes fenômenos tão largamente estudados pelo codificador
da Doutrina Espírita precisam ser mais pesquisados e explorados se quisermos
conhecer mais a respeito do ser humano. Freud com a Psicanálise conseguiu, até
certo ponto, delinear os contornos da alma humana. Há muito mais ainda,
entretanto, para se descobrir. O pai da Psicanálise estava limitado pelas
concepções materialistas. Entendendo que somos Espíritos e utilizando as
ferramentas oferecidas pelos fenômenos de emancipação da alma podemos realizar
uma "viagem" ao seu interior explorando os seus meandros, corrigindo
concepções, melhorando condutas, abrindo caminhos para o entendimento, etc. São
tantas as possibilidades, mas que se encontram engavetadas graças a certo
descuido deixando passar oportunidades formidáveis de entendimento e de ajuda
ao ser humano e às suas mazelas.
*Adilson Motta de Santana escreve no jornal Correio Espírita
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