domingo, 19 de outubro de 2025

O País do Medo - artigo de Alex Pipkin, PhD em Administração


O País do Medo

Alex Pipkin, PhD em Administração

As instituições brasileiras se tornaram fábricas de medo — e, mais do que isso, fábricas emblemáticas da autolocupletação e difusoras da intimidação. O poder e a liderança já não se afirmam pela confiança ou pela competência que inspira e serve de modelo; virtudes essenciais, sobretudo para a geração mais jovem. Historicamente, o poder flertou com o medo; no Brasil atual, ele o faz de forma escancarada e sem pudor. O medo tornou-se o método oficial das lideranças institucionais, que confundem força com coerção e autoridade com intimidação.

A universidade, que deveria ensinar a pensar por meio de várias visões de mundo, transformou-se em laboratório de obediência. O contraditório foi banido — e, de forma estúpida e ideológica, cancelado. Não se pode discordar, muito menos pensar contra o dogma. Não há debate; há apenas a catequese das falácias do coletivismo, do “progressismo” do atraso.

Enquanto isso, a suposta “suprema” corte tornou-se um espetáculo dantesco. O tribunal virou palco de arbitrariedades, vaidades e decisões nada republicanas. Cada juiz interpreta conforme seu humor ideológico, e a lei passou a ser pretexto para o arbítrio. Jornalistas são punidos, opiniões censuradas, e a liberdade de expressão, que um dia nos fez cidadãos, tornou-se risco calculado.

Vivemos sob a ditadura do medo institucionalizado, que transbordou para a vida comum. As pessoas evitam expor-se, opinar ou confrontar. Tornaram-se cúmplices involuntárias da própria servidão. Esse silenciamento é não apenas político, mas psicológico e moral. O resultado é o tipo humano mais perigoso para uma civilização: o vitimista submisso, que transfere a culpa e terceiriza a responsabilidade. Quem estuda a história sabe que este sempre foi o método de líderes autoritários travestidos de humanistas, que arrotam governar para o povo. A culpa pelos fracassos sempre recai sobre um inimigo criado, nunca sobre suas próprias falácias.

Como consultor empresarial, vejo isso de forma evidente. É impossível liderar se você fica limitado aos problemas atuais, sem olhar para a mudança. Muitos líderes estão nesse estado, agarrados ao passado, aos próprios erros e frustrações, culpando o sistema. Eles não mudam; esperam que alguém ou as circunstâncias os mude. A política do medo funciona como antídoto perverso: mantém-nos imóveis e impede que assumam responsabilidade, transformando a inação em obstáculo à mudança.

O legítimo líder é um homem livre que pensa criticamente e que, portanto, age de maneira diferente. Diante do fracasso, ele não repete suas queixas: ele aprende e age. Não diz “ninguém me ouviu”, mas “não construí confiança suficiente para fazer o que precisa ser feito”. Ele entende que a liberdade é inseparável da autorresponsabilidade e de sua ação crítica e deliberada.

Essa é a fronteira decisiva entre cidadão e súbdito. O medo institucionalizado impacta de maneira avassaladora todas as esferas da vida brasileira, impedindo o crescimento individual, corporativo e social — nas empresas, universidades, mídia e sociedade.

No Brasil, a vitimização tornou-se virtude pública. O resultado é uma sociedade de subalternos — dóceis, ressentidos, distraídos — que preferem culpar outros ao desconforto de pensar por si.

Diante dessa realidade, cada indivíduo precisa fazer um exame de consciência. É necessário criar seus próprios incentivos, refletir sobre valores e visão de mundo, e buscar mudar a si mesmo e, na medida do possível, este sistema perverso. É possível pensar diferente, adotar visões diversas, mas sem se acovardar ou se resignar à estagnação e ao retrocesso que medo e vitimização nos impõem. A responsabilidade é pessoal. A ação consciente é o único caminho para não nos tornarmos cúmplices de nossa própria mediocridade.

Enquanto o medo for o cimento das nossas instituições e a vitimização o refúgio das consciências, permaneceremos estúpidos. Não por falta de inteligência, mas por covardia moral.


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